sábado, setembro 17, 2011
As horas
A visita periódica dos velhos demónios é ritual que se desgasta, mas não se esgota, com a passagem do tempo. As horas convertidas em noites, em anos, e então a familiaridade converte-se numa espécie de simpatia. O terror cede lugar ao mero amedrontamento. A dor excruciante converte-se em amena perturbação. Há uma espécie de ternura no hábito do conhecimento do inferno. |
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15:40
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sexta-feira, setembro 16, 2011
O ponto de vista dos demónios
É uma espécie de purgatório, a idade balzaquiana, que abriga a metamorfose que se desdobra, demasiado lentamente, entre a adolescência e a verdadeira idade madura. Saber o que fazer com os demónios domesticados, acomodá-los nos recantos escondidos da casa, esperando qualquer coisa entre o tumulto apavorado da insónia e a familiaridade da convivência ao redor da mesma mesa. Esperar o tempo em que a urgência do próprio sono se desmaterializa, o tempo de uma refeição partilhada de igual para igual, quando os dias não mais se alimentarem dos meus ossos. |
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15:30
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quinta-feira, maio 10, 2007
Dia recorrente
Ter dentro um bicho que salta. Um bicho vivo que come, que morde, que rói, que gasta. O lugar fechado de um peito, caverna escura, recôndita, lugar insuficiente para um bicho de membros enrolados, entorpecidos, raivosos. O bicho morde e come e engorda e inquieta-se - quer crescer. Quer crescer e não pode. O bicho acorda em momento incerto, rasga a pele num lugar de fragilidade - de ferida - onde o tecido se deslaça, semi-translúcido, como o linho roto, poído, de uma saia muito usada. Salta e abocanha, com dentes gigantescos, cada naco de gente, de mundo, ao alcance dos seus braços esfomeados. Ter dentro um bicho que salta, rebelde, e destrói. Depois recolhe triste, mudo, encolhido, à escura caverna onde habita. Prega-se às paredes do peito como um molusco. Finge-se de morto. Não se dá por ele durante muitas noites a fio. Ouve-se apenas, quando o silêncio é denso, uma respiração pesada como o som de pedras a rolar montanha abaixo. |
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22:16
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domingo, fevereiro 25, 2007
Dig a hole (Candy, Candy, Candy, I can't let you go)
I've had this hole in my heart for so long I've learned to fake it and just smile along |
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03:42
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sábado, janeiro 14, 2006
Dia incompleto
porque é que tão cedo, e tão de súbito, tudo me falta? |
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02:17
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quarta-feira, janeiro 11, 2006
S.
repetidas vezes te neguei por não querer o tempo que nos excede. e que fazer agora do querer-te, quando o tempo me nega o teu abraço? |
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03:38
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terça-feira, janeiro 10, 2006
confesso:
aqui, desconheço-te. a enfermidade da sede inflamava a mentira da água verde. enquanto isso, também nesta pedra de peito se engendrava uma mentira: I will miss you when you're across the sea. tu, que não me deixarias demorar nas sombras muito mais que meia hora. o abandono era o nó, não a sede. cortado o nó, promete-me que não me faltará o teu abraço. |
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02:19
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segunda-feira, janeiro 09, 2006
?
o que eu queria saber é porque me desamas tu, porque foi tão grande mentira essa água verde dos teus olhos, porque me morre a sede na garganta em ferida. |
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03:15
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domingo, janeiro 01, 2006
"If I had a tumour I'd name it _______________."
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17:41
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segunda-feira, dezembro 12, 2005
das palavras proibidas
amo-te. a ti e a essa água verde interdita na tua boca, esse lugar onde a palavra corpo adquire substância e sentido. |
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13:51
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domingo, setembro 25, 2005
It's not even closing time and already stars are falling out of the sky *
acomoda-se o mundo à estreiteza dos dias. o meu velho demónio espera-me na garganta da terra. a memória do amargo fruto ainda ácida na boca. o outono constrói-se subitamente de um rumor de desejos falhados e folhas secas. antecipa-se em mim o frio que há-de vir, o degredo das noites longas, até que as horas se diluam.
* American Music Club |
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16:39
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Pablo Picasso
Minotauro
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Lhasa
Soon this place will be too
small
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into the labirynth
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saturnine,
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